Alerta Total
- Prisão da cúpula da Odebrecht e Andrade Gutierrez gera expectativa sobre ações contra Lula, Dirceu e Palocci
- Antarada
- Lei Moral, Liberdade e História: Tripé da Grandeza
- Federico Sanchez se despide de ustedes
Posted: 19 Jun 2015 07:51 AM PDT
Será que a história se repetirá para Lula?
Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
"Erga Omnes". No Brasil, conforme mais um nome esquisito de operação da Polícia Federal (a 14a na Lava Jato), começa a parecer que a Lei pode e deve valer para todos. As prisões de Marcelo Odebrecht, presidente do quinto maior grupo privado do País, e de Otávio Azevedo, da não menos poderosíssima Andrade Gutierrez, indicam que "a norma vai ter efeito vinculante". Nos bastidores políticos, já se prevê que Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu de Oliveira e Silva, Antonio Palocci Filho e outros petistas e peemedebistas de peso terão problemas, em breve, com o juiz Sérgio Moro.
Um dos membros da Força Tarefa da Lava Jato, o procurador Carlos Fernando Lima, foi bem claro sobre a prisão de Odebrecht e Azevedo: "Os presidentes das empresas sabiam de tudo. Apareceram indícios concretos comprovando que eles tiveram contato ou participações diretas em atos que levaram a formação de cartel". A Erga Omnes também prendeu os executivos Márcio Farias e Rogério Araújo, da Odebrecht, e Paulo Dalmaso e Elton Negrão, da Andrade Gutierrez. Literalmente nuna fria, eles esperam não passar uma longa temporada na gelada cadeia da PF em Curitiba.
Na verdade, o clima vai esquentar e se tornar infernal. Segunda-feira que vem, na condição de investigados, a Justiça ouvirá os delatores premiados Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, e os ex-deputados João Luiz Argolo Filho (PP) e Pedro Corrêa (PP). Os seis depoimentos, que devem acontecer até 3 de julho, servirão para o inquérito que corre no STF. Muita gente poderosa ficará apavorada. Alguns devem baixar hospital...
Especificamente, eles devem falar sobre o suposto envolvimento de autoridades, com foro privilegiado, nas fraudes com contratos da Petrobras. A investigação mexe com nomes de peso, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), além dos ex-ministros Mário Negromonte e Edison Lobão, e outros 11 deputados federais. Todos são suspeitos de terem se beneficiado do esquema de fraudes em obras da Petrobras, que desviou dinheiro a três partidos políticos - PT, PMDB e PP.
Ainda estamos longe do tão esperado "juízo final". Mas o Armagedon agora começa a ficar mais bem delineado. A crise política, deflagrada pelas ações judiciais concretas contra a corrupção, está apenas no início... O bicho não só vai pegar como também será pego... O consolo é que o sol começa a nascer quadrado para muita gente que jamais poderia acreditar que, um dia, iria tomar um banho sem chuveiro quente em pleno cárcere do inverno curitibano.
Explicando o inexplicável
Versões oficiais das empreiteiras não batem com a realidade:
"A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) confirma a operação da Polícia Federal em seu escritório em São Paulo e no Rio de Janeiro, para o cumprimento de mandados de busca e apreensão. Da mesma forma, alguns mandados de prisão e condução coercitiva foram emitidos. Como é de conhecimento público, a CNO entende que estes mandados são desnecessários, uma vez que a empresa e seus executivos, desde o início da operação Lava Jato, sempre estiveram à disposição das autoridades para colaborar com as investigações. Construtora Norberto Odebrecht"
"A Andrade Gutierrez informa que está acompanhando o andamento da 14ª fase da Operação Lava Jato e prestando todo o apoio necessário aos seus executivos nesse momento. A empresa informa ainda que está colaborando com as investigações no intuito de que todos os assuntos em pauta sejam esclarecidos o mais rapidamente possível. Este tem sido, inclusive, o procedimento da companhia desde o início das investigações, atendendo a convocações da Justiça ou comparecendo voluntariamente para apresentar documentos e prestar esclarecimentos, causando estranheza as prisões. A Andrade Gutierrez reitera, como vem fazendo desde o início das investigações, que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Operação Lava Jato, e espera poder esclarecer todos os questionamentos da Justiça o quanto antes."
Sucesso do fracasso
Chavez se multiplicou
Valeu a pena ter passado pelo maior sufoco a missão liderada por Aécio Neves, presidente do PSDB, e integrada pelos senadores Ronaldo Caiado, Aloysio Nunes, Cassio Cunha Lima (PSDB-PB), José Agripino (DEM-RN), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), José Medeiros (PPS-MT) e Sérgio Petecão (PSD-AC), na visita à Venezuela para se solidarizar com familiares de presos políticos.
O ponto mais tenso foi quando 50 manifestantos pró-Nicolas Maduro cercaram o ônibus da comitiva, a cerca de 1 Km do aeroporto de Caracas, e baterem na carroceria com o aviso:
"Fora, fora. Chávez não morreu, se multiplicou".
Cunhada
A maior vitória simbólica do protesto não foi o encontro com Lilian Tintori, mulher de Leopoldo López; Mitzy Capriles, casada com Antonio Ledezma; Patricia de Ceballos, esposa de Daniel Ceballos; e pela ex-deputada cassada María Corina Machado.
A grande jogada foi do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que, aqui do Brasil, comandou todo o espetáculo, exigindo uma satisfação do Itamaraty e da Presidência da República contra os atos politicamente arbitrários do governo venezuelano.
A manobra de Cunha deverá forçar a Presidenta Dilma a criar problemas para a Venezuela no Mercosul...
Vitória
Maria Corina classificou de histórica e elogiou a coragem e iniciativa da comissão brasileira:
"Vocês estão presenciando gesto histórico e sem precedente. O Brasil envia mensagem ao mundo inteiro de que a Democracia está conosco. A indiferença do governo brasileiro é cumplicidade".
Mitzy avaliou que a visita dos senadores brasileiros pode acelerar o processo para definir a data das eleições na Venezuela.
Fifagate
Do sempre atento leitor Mário A. Dente, de São Paulo, uma sugestão de gol simples a ser marcado:
"O assunto mais focado na mídia é a FIFA e seus trambiques com "associados políticos" nas copas até 2010. Para os brasileiros, o que interessa é quebrar o sigilo da copa 2014. A mídia deveria investigar e divulgar os trambiques que aposto que houve, dado o histórico do partido do governo".
Sobre o assunto, veja um vídeo da Daniela Schwery no Youtube:
Direito e Justiça em Foco
Domingo, às 22 horas, o editor-chefe deste Alerta Total será o entrevistado do Desembargador Laércio Laurelli no programa Direito e Justiça em Foco.
Adeus em ritmo de Lava Jato
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O Alerta Total tem a missão de praticar um Jornalismo Independente, analítico e provocador de novos valores humanos, pela análise política e estratégica, com conhecimento criativo, informação fidedigna e verdade objetiva. Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.
A transcrição ou copia dos textos publicados neste blog é livre. Em nome da ética democrática, solicitamos que a origem e a data original da publicação sejam identificadas. Nada custa um aviso sobre a livre publicação, para nosso simples conhecimento.
© Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 19 de Junho de 2015.
Posted: 19 Jun 2015 03:44 AM PDT
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos Maurício Mantiqueira
Antes de mais nada devemos diferenciar um conjunto de antas de uma, afetada pela síndrome antiga, da singela cantiga pra dor de barriga.
Pode parecer intriga, mas trabalhou a Anta sem fadiga pra salvar uma graça de amiga, lambuzada até o pescoço, num verdadeiro angú de caroço.
Passaram o arado na Anta (que tornou-se uma anta arada) por descuido do maquinista (por mais cuidado que ela insista) e deixou-lhe o pelo falhado e o ânimo mal tratado.
Agora tem a temer, a máquina ensacadeira, que se chega a alcançá-la, sua sorte vai pro saco. De besteira em besteira, meteu-se num buraco porque o antecessor é um fraco. Grita, xinga, esbraveja (quando finge que lê a revista) mas está do Fifalão na lista.
Na própria tripa se enforca enquanto a porca o rabo torce, por mais que pra safar se esforce.
O "zuzu bem!" não engana mais ninguém.
É tempo de jaburú e o molusco, vocês já sabem!.
Carlos Maurício Mantiqueira é um livre pensador.
Posted: 19 Jun 2015 03:42 AM PDT
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Luiz Eduardo da Rocha Paiva
O respeito a um código de valores morais e éticos é um dos alicerces da grandeza das nações. Riqueza, progresso e poder não bastam nos desafios cujo enfrentamento exija coesão, autoestima e autorrespeito, atributos de nações que se impõem pelo próprio valor. O código é a Lei Moral, amálgama dos cidadãos entre si, elo do povo com sua liderança e base da grandeza das nações.
A sociedade brasileira padece de grave enfermidade moral que contamina a liderança nacional e compromete a coesão imprescindível ao País para enfrentar os conflitos que virão, por sua crescente inserção como ator de peso nas relações internacionais. A liderança é patrimonialista e amplamente corrompida nos Poderes da União e em diversos setores do País. Apodera-se dos bens públicos como se fossem de sua propriedade e escarnece da Nação com mentirosas explicações para as manobras imorais que promove, usurpando o tesouro nacional em benefício próprio.
Apóia-se na impunidade e na omissão de uma sociedade anestesiada e lamentavelmente acomodada, que perdeu a confiança na justiça, assumiu a falta de ética e sepultou valores imortais. O cidadão contenta-se com a satisfação de necessidades básicas e a falsa noção de liberdade, que usa sem responsabilidade e disciplina, tornando-a um bem ilusório.Agoniza a Lei Moral, condição de grandeza.
Vão-se as referências e vem a anomia, dando margem a desvios de conduta emblemáticos como o do atleta que vira cambalhotas em solenidade na rampa do Palácio do Planalto; o do aluno que se dirige ao mestre pelo apelido, quando não o agride; o de autoridades que, literalmente, usam o boné de movimentos radicais violentos, ditos sociais, como o MST, parecendo respaldar suas ações criminosas; e o de líderes que não se envergonham de buscar o apoio de poderosos políticos corruptos e prestigiarmensaleiros denunciados na justiça como uma quadrilha.
A liderança nacional, carente valores para se afirmar pelo exemplo, na ânsia de agradar para aparecer bem na foto e ávida de poder, despreza protocolos, normas e ética, debilitando o princípio da autoridade e a dignidade de cargos públicos. Leva a Nação a confundir intimidade permissiva e leniência com espírito democrático e falta de ética com tino político.
Essa doença moral não será curada por partidos políticos desmoralizados ou por eleições incapazes de aperfeiçoar, por si só, a democracia como se tenta iludir a Nação. Um choque de valores teria de vir da sociedade, ser aplicado nela própria, assimilado pelas famílias e por um sistema educacional moral e profissionalmente recuperado, capaz de gerar cidadãos íntegros e cientes de que liberdade sem disciplina esgarça o sistema social. Hoje, a mídia é o setor com maior poder de contribuir para recuperar os valores tradicionais e limitar a ganância e abusos dos donos do poder, desde que resista às tentativas de mordaça política, financeira e ideológica e permaneça imparcial e vigilante.
Liberdade é um bem inestimável e uma das aspirações mais valorizadas pela sociedade brasileira, mas não é passe livre para o cidadão fazer o que bem entende. O exercício desse direito requer civismo, disciplina e respeito ao próximo. A crença na liberdade fica comprometida quando as instituições não impõem o império da lei e justiça e as lideranças usam o poder para usurpar, impunemente, bens por direito pertencentes à nação.
Por outro lado, a ausência de liberdade já fez ruir muitos impérios. A União Soviética condenou-se ao atraso, exceto nos campos militar e científico-tecnológico, ao submeter suas nações a uma ideologia totalitária liberticida, colocando o Partido Comunista acima de liberdade, justiça, vida e família. História e tradição foram deturpadas pela ideologia; heróis de verdade denegridos e substituídos por ídolos feitos pela propaganda estatal; disciplina e dever, impostos por ameaças, eram voltados ao Partido e não à nação. Foi um Estado déspota que tentou, mas não conseguiu apagar a história e as tradições das nações que tornou escravas.
A história também é fiadora do projeto de uma nação que se pretende grande, perene e respeitada. É o selo desse compromisso transmitido de geração a geração e fortalece a fraternidade entre os cidadãos de um país. Se a história mantém unida a nação, os heróis que conduziram o país em momentos decisivos são os seus protagonistas. Eles se tornam merecedores da gratidão e respeito do povo por tomarem atitudes corajosas e decisivas e assumirem responsabilidades com sacrifício pessoal, em prol da nação, diante de situações extremas.
Heróis não foram e nem poderiam ser pessoas perfeitas, mas são cidadãos especiais como poucos serão. Pátria, história e heróis são símbolos, sínteses e imagens de princípios e valores morais e éticos inspiradores de nobres ideais. Ao enaltecê-los, uma nação com vocação de grandeza propõe referenciais de excelência que motivam a busca da perfeição e tornam o povo combativo, disciplinado, altivo, empreendedor e unido. Ou seja, constrói a própria grandeza.
Há décadas que a esquerda radical brasileira, herdeira da infausta ideologia comunista, desenvolve permanente campanha no sentido de denegrir a História e os heróis do País e, também, promover a quebra de valores tradicionais, a fim de enfraquecer a coesão nacional e debilitar moralmente a sociedade e a família. Conta com a parceria, consciente ou não, de vários segmentos da Nação, que se tornaram instrumentos da via gramcistade tomada do poder, estratégia contemporânea para a implantação de um regime socialista totalitário e liberticida.
As vulnerabilidades advindas desse contexto, e que fragilizam a Nação, não poderiam deixar de ser aproveitadas pelos inimigos da democracia.
Ou o Brasil revigora a Lei Moral, consolida a liberdade, neutralizando seus inimigos, e resgata sua História e heróis ou será um gigante de pés de barro, uma Nação sem o respeito do mundo e, pior ainda, do seu próprio povo.
Luiz Eduardo Rocha Paiva é General de Brigada na reserva. Artigo publicado na Revista do Clube Militar, Nr 442, (Agosto-setembro-Outubro/2011).
Posted: 19 Jun 2015 03:41 AM PDT
"O Poder, nos sistemas totalitários, é tão avassalador que, tomando-se por razão de ser as vidas humanas, encarna também a justificação da morte. Foi no campo de concentração de Buchenwald que primeiro Semprun sentiu a opressão imposta pelo partido. Havia uma célula comunista em ação, no próprio campo, organizada por um contra-poder. Jorge Semprun percebeu que existia um sistema opressivo dentro do outro. O comunismo, embora pregue uma sociedade sem classes, não tem nela o seu horizonte real. O horizonte do comunismo, incontornável, é o horizonte do Gulag". (Orelha do livro "Federico Sanchez se Despide de Ustedes")
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I.S. Azambuja
Jorge Semprun foi militante do Partido Comunista Espanhol utilizando o codinome de "Federico Sanchez". Filho de um embaixador, nasceu em 1923; em 1939 licenciou-se em Filosofia na Sorbonne; ingressou no PC Espanhol em 1942 e lutou, desde muito jovem, na Resistência Francesa; foi preso em 1943 e deportado para o campo de concentração de Buchenwald, de onde só saiu em 1945, libertado pelas tropas do general Patton. Cultuou a personalidade de Stalin e tornou-se membro do Comitê Central e responsável pelo trabalho clandestino do partido em Madri.
Seu conhecimento direto do que foi a luta anti-franquista levou-o, então, a afastar-se das posições triunfalistas dos dirigentes e o choque com Santiago Carrillo, então Secretário-Geral, tornou-se inevitável. Logo veio a sua expulsão, em 1964. Seu crime: revisionismo. Jorge Semprun foi considerado de direita. De direita por reconhecer a realidade e analisá-la com rigor, condição preliminar a toda vontade séria de reforma e de transformação. Em troca, ser de esquerda consiste em proclamar de maneira voluntarista e dogmática a ruptura social, o salto adiante. Ou melhor, o salto no vácuo.
O renegado abandonou seu nome de guerra e recuperou sua identidade, escreveu diversos livros e foi Ministro da Cultura do governo socialista de Felipe Gonzalez, entre 1988 e 1991. Mas somente em 1963, 18 anos após sua libertação, se sentiu em condições de descrever sua experiência em Buchenwald, com o livro "A Grande Viagem", pois o cheiro de carne humana queimada, a fumaça do forno crematório afugentando os pássaros, a morte praticada em escala industrial pelo regime nazista, o mal absoluto, que tudo invadiu e devorou, parecia-lhe intransmissível.
Semprun posteriormente, já ministro, assinala que antes de assumir esse cargo tinha mais poder. Tinha mais poder quando era FedericoSanchez, na clandestinidade. Centenas de militantes confiavam nele, pois encarnava uma realidade obscura, porém, naqueles dias, considerada coerente: a Revolução de Outubro, classe operária mundial, futuro radiante, dirigente do partido. Por isso, qualquer que fosse o codinome que utilizasse, adquiria um poder pessoal, delegado, sem dúvida, porém inquestionável.
Em determinadas ocasiões, absoluto poder de vida ou morte, considerando que os militantes colocavam em jogo a sua liberdade e, às vezes, suas vidas, em ações para as quais eram convocados. Um a um, ao longo dos anos, jovens ou menos jovens, universitários ou operários, Semprun os recrutava para ações. Alguns apresentavam dúvidas, dissipadas por ele. Alguns tinham temores e ele os tranqüilizava. Isso tudo durante cerca de 10 anos.
"Todavia, hoje" – relata Semprun – "escuto o eco, reencontro as digitais daquele poder de antigamente. Em qualquer lugar, em um salão, em um café ou na rua, alguém se dirige a mim e me recorda as circunstâncias distantes de algum encontro clandestino. Por que – parece que me pergunta – eu o havia embarcado naquela aventura para depois abandoná-lo à sua sorte? Porém, ele sabe em seu foro mais íntimo, que eu não o abandonei, que foi aquela aventura nossa que nos abandonou, a nós dois, a ele e a mim".
Em um de seus livros – "Autobiografia de Federico Sanchez" – escreveu um capítulo intitulado "Para o Conhecimento Exclusivo do Comitê Central". Desse capítulo é o resumo abaixo:
"Muito pouco se pode esperar dos grupos de filiação leninista, maoísta ou trotskista, porque todos eles saíram da mesma matriz, do mesmo molde, porque nenhum deles voltou a questionar os problemas da vanguarda proletária, todos tidos como historicamente resolvidos com a experiência bolchevique. Enquanto não se atacar na raiz leninista as questões do partido, sua ligação com as massas, sua concepção de autonomia operária, não teremos acrescentado grande coisa. Enquanto o partido nos obstruir o horizonte como um monólito, nada teremos resolvido.
'O partido resume tudo', já o disse Fidel Castro. E ponto final.
Convém, no entanto, afirmar algumas verdades históricas.
Em primeiro lugar, tem-se que compreender que o partido comunista não pode ser o fim, mas um meio, um instrumento conjuntural, sempre passível de modificação, do movimento revolucionário. Um instrumento entre outros, como são os sindicatos, as organizações de massa, as associações de bairro, os movimentos ecológicos. Ou seja, todas as formas organizadas de luta que permitam ou favoreçam a ampla participação popular.
De todas elas, o partido se distingue por duas características principais que constituem a um tempo a sua força e a sua fraqueza. A primeira é a permanência histórica, ao longo de ciclos ininterruptos e quaisquer que sejam as dificuldades objetivas de sua organização. A segunda, sua aplicação predominante na esfera específica do político. No entanto, a permanência da organização, tão necessária por um lado, é uma fonte geradora de rotinas e ritos, de preguiça mental e de submissão. E sua inclinação para agir na esfera política, indispensável porque não pode haver empresa revolucionária que não abranja a questão do Poder, é assim mesmo alienada e reduzida. A política é o Estado e a revolução comunista não tem sentido sem a supressão do Estado.
Tudo o que foi dito significa, em suma, que a revolução não deve estar a serviço do partido, mas este a serviço da revolução. Ver-se-á que o Partido – assim com maiúscula como escreve Fidel Castro – da codificação staliniana de um certo leninismo, terminou convertendo-se no fim supremo do movimento comunista. Produziu-se uma total inversão de valores e de objetivos históricos. Já não parece que o fim supremo de todo revolucionário – por longínquo e difícil que ele resulte - consista em fazer a revolução, mas em manter o Partido (continuo com a maiúscula).
Manter a unidade, a disciplina, o pensamento correto - e sabe-se que o único critério deste reside nas decisões dos chefes -, a ideologia quase religiosa do Partido, qualquer que seja sua estratégia política, e ainda é claro, diga-se, que a dita estratégia só conduz a uma série ininterrupta de fracassos.
O Partido se converteu num fim em si, num ente devorador e metafísico, cuja principal vocação consiste em perseverar em seu próprio ser. E isso implica que os elementos de adesão acrítica, para-religiosa ou paralisante, predominem sobre os elementos racionais.
Portanto, volto a repetir, todo o passo para frente que pretenda se livrar dos obstáculos do stalinismo sem uma recaída na tradição anterior da social-democracia – ambas as vias têm provado a sua esterilidade e daria calafrios calcular quantos milhões de mortos que elas causaram nas classes trabalhadoras deste século – exige que seja radicalmente reposto o problema da relação entre a classe e sua possível vanguarda.
A segunda verdade, que aflora da experiência histórica, pode parecer escandalosa. É que, em vista dos fatos, o partido comunista não serve para nada. Quero dizer: não serve para os fins que motivaram e justificaram a sua criação, dentro dele e em oposição ao movimento social-democrático predominante no princípio deste século. Não serve nem para tomar o Poder nem para instaurar o socialismo.
Tomar o Poder? No caso da revolução cubana, que é o mais recente exemplo histórico, não é necessário argumentar-se longamente que o poder não foi tomado pelo partido comunista (que se denominava Partido Socialista Popular), senão contra ele ou, pelo menos, à margem dele e a despeito dele. Quando Fidel proclamou que 'o Partido é tudo' que 'nele se sintetizam os sonhos de todos os revolucionários', não somente está flutuando no céu das verdades teologais, como está falseando a história do seu próprio país, de sua própria revolução.
Dirão, sem dúvida, que a revolução de 1917, na Rússia, é um exemplo clássico da tomada do Poder por um partido comunista, pelo partido bolchevique. Ora, isso também não é verdade.
Que fez Lênin em primeiro lugar, em abril de 1917, ao chegar a Petrogrado? Desmanchou, desmantelou a estratégia, a concepção das diversas fases da revolução, a própria estrutura orgânica do partido – seu partido -. Que se saiba, o lema no momento era 'todo poder aos sovietes' e não 'todo poder ao partido bolchevique'.
Com esta última palavra de ordem não teria havido a revolução. É que o germe de universalidade que havia na expressão 'todo o poder aos sovietes', se localizava precisamente nesse tipo de vinculação da vanguarda com as massas, que fazia daquela mera expressão concentrada e coerente das aspirações destas; o germe da universalidade residia nas formas soviéticas de um poder de novo tipo.
Quando o partido deixa de ser isso, quando começa a devorar cancerosamente todo o tecido social, a homogeneizar todas as formas de vida social em função de uma concepção despótica, ainda que se pretenda esclarecida, da hegemonia, quando o partido destrói o pluralismo e liquida as formas do Poder soviético, então a revolução russa perde sua significação universal e se converte em uma simples peripécia particular de acumulação do capital social numa sociedade atrasada.
Mais tarde, o fracasso da desestalinização engendrada por Kruschev demonstrou que o sistema de capitalismo de Estado burocrático não pode se reformar a partir de cima, mas que tem que ser destruído pela base. Esta última solução é praticamente impensável, dada a diferença de forças. Em verdade, pensar na situação social dos países do Leste significa pensar no aparentemente impensável. Quem o fizer, exige forjar conceitos novos para pensar. Exige que se reinvente as armas da crítica e a crítica das armas. Quero dizer, de violência popular. A santa, justa, destruidora e positiva violência popular.
Afinal, Fidel Castro tinha razão: 'o Partido resume tudo'. Nele se resumem e se concentram todos os aspectos negativos da situação, todos os obstáculos no caminho hipotético de uma solução. É preciso acabar com os partidos comunistas de tradição kominterneana."
E conclui Jorge Semprun, como que falando para si mesmo:
"Você tem toda a razão do mundo. Se analisar friamente a realidade tem toda a razão do mundo. Porém, você pode analisar friamente a realidade do partido? Claro que não. Você sabe que disse a verdade objetivamente. Ao menos parcialmente. Você disse uma verdade que se poderia argumentar e se explicar historicamente ao longo de muitas e muitas páginas. Não vá virar as costas para essa verdade. Muito trabalho lhe custou chegar a ela.
Tempo demais você gastou para conquistá-la, para esquecê-la apenas pronunciada. Porém essa realidade objetiva não recobre toda a realidade do partido. Ou seja, a realidade dos comunistas de carne e osso. Você se lembrará dos comunistas de carne e osso. Você sempre se lembrará. Você se lembrará dos comunistas que lhe abriram a porta e fitaram a você, Desconhecido. E você dizia a contra-senha e lhe abriam a porta e você entrava em suas vidas e nelas introduzia o risco da luta. Do cárcere, talvez.
Você se lembrará dos desconhecidos militantes. Você se lembrará dos comunistas! Sem nenhuma dúvida!
Adeus para sempre, camaradas!"
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
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